A eles são oferecidos apenas
Lírios de sal
E suas bocas abertas ainda vociferam
No rigor de suas mortes
E em gargantas abertas
Tudo o que podia
Ter nascido livre
E foi cedido a desgraças festivas
Dos santos castiçais da fome
Onde eu serei comensal
Da morte de meus filhos
Que cederei ao meu pecado
Mais frio e mais belo
Só não mais que o tecido
Que cobre meu corpo nu
Amor
A casa se compunha de quartos sem porta, paredes infiltradas de agua e displicencia. A cozinha servia em sua mesa o almoço vulgar das quartas. Ela pensava que o vale em que morava a consideraria obtusa se pudesse fazer apontamentos. Pelas manhã, cruzava o trecho de grama alta procurando por agua. Bebia dela, e levava com esforço um largo balde para sua estância. Valorizaria a agua da fonte a de seu suor, que a dignificava mulher. Tinha piedade dos bichos, por eles rezava um rosário aos fins de semana. Lembrava-se de sua mãe morta, enquanto vestia nas quartas o vestido de pano bom que herdara. Vestido de pano e cheiro de mãe. Para tanto, ela se lavava esfregando sua pele até que formasse uma pele outra, de sabão e água. Apenas a esperança da limpeza não era suficiente, devia haver vermelhidão de pele. Cessado o banho abrira, o armário ainda nua e úmida. Vislumbrou o vestido. Um corte. No sol. Sua janela aberta enunciou uma sombra, mas temeu ser um animal. Portanto a veste era primeira, e esforçava-se em entender o forro quase solto, para que entrasse no vestido. Outro corte, ainda maior. O som. Passos. Não era dela o conhecimento de outra silhueta em anos. Criava ovo e semente querendo ser só. E no entanto os ovos e as sementes foram muitos e insuficientes. Atravessava num passo de violência quem cortaria todo o seu mundo. Jerundina, aos 47 anos, com a mãe no corpo e os pés molhados temeu. Um passo, um corte, e um corte. O cervo, com seus chifres descascando em sangue viria para amedrontar seu rosto feminino.
José Alexandre, no sarau do dia 28 de junho de 2024. Inacabado, segundo ele.
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